sábado, 10 de agosto de 2013


Escrevo para me redimir, me confrontar, me iludir. Escrevo para dar vazão a um substrato mental corrosivo que incita a loucura, escrevo para me livrar da dor, escrevo para contemplar o amor, a natureza e o que há de essencialmente puro e divino.

Meu processo de escrita é impreciso, oscila na perspectiva do fluxo de ideias, às vezes são como correntes aquáticas num oceano de possibilidades, ora frias, ora mornas, o caldo contorce-se na movimentação densa dos organismos primários. Peixes na lama que ganham formas e se debatem contra as rochas milenares. Sentidos ofuscados por membranas torpes, visão distorcida de fragmentos molhados. Quando salta, o peixe vira pássaro e ganha os ares, sente o ar e enfrenta a volta, via queda abrupta, suas nadadeiras não são asas e toda transmutação tem seu tempo.

As ideias me vêm num fluxo incessante que mal me permitem reconhecer a relevância precisa. Ato biografia é essencialmente o que mais me motiva a escrever, mas não sobre os feitos socialmente valorizados, o que me motiva sobre o ponto de vista literário, no sentido de ter o ensejo de construir algo, é uma espécie de autoanálise que vem acompanhada de uma simultânea auto sabotagem via auto exposição denegrida, excessivamente fragilizada, passional.

Sinto a necessidade de simplesmente tentar agir como se as mãos rápidas no teclado pudessem acompanhar o fluxo contínuo do pensamento- expurgo de um cérebro ativo. Salvo que a incorporação é o que fica. A verdade é que sinto uma constante interação de pensamentos meus e alheios capazes de me transmitir imagens e mensagens de conhecimento de dimensões paralelas, assunto delicado que demanda um acurado trato – barreira imaginária que tal como linha tênue é reversível e transponível. Admitir finalmente que nem tudo o que escrevo deve ser publicado, e que, além disso, agora consigo ter uma visão mais abrangente e pensar a poesia para além de sua origem na auto exumação do bem o do mal em mim, de algum sentimento contundente, do inerente processo de escolhas sem fim. Agora passo a lidar melhor com os impulsos, me contendo talvez, ou partindo de um ponto de vista mais maduro acerca do que é escrever e qual é minha verdadeira intenção. O fato é que esses anos de blog tem me servido para desmistificar a escrita e a interação entre o que escrevo e o que reverbera entre os meus convivas, admito que ainda me auto boicoto e que poderia soltar mais a mão e o coração.

 

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