sexta-feira, 19 de abril de 2013


Dentro de nós passa um rio
e mora um lago
de águas ora fluidas ora estagnadas
como correntes que levam suas horas em desapegos
e horas que invertem suas correntes em turbilhão
trombas d’água
que abrem suas margens à possibilidades 

Danço a noite
celebro o corpo vivo
onde os pés giram
o movimento constante
o ritmo elétrico
do cio lunar
cheia de vida
elixir de êxtase
transe de metamorfose
ação de forças misteriosas
que atuam fornecendo
o encontro do acaso com o desejo
vereda de acesso ao inconsciente
tramas oníricas- teias de significação invisível


Dance com a chama de uma vela
fixe um ponto, ascenda seu olhar
sentirá a conexão astral
elementar entre a terra e o ar
combustível pra queimar
enquanto sua essência de água
se converte em lágrima
cristalizada condensando a
quintessência –éter  elixir
do espírito solto

quinta-feira, 18 de abril de 2013


Queria escrever a cartografia da falta e do descompasso. Cristalizo fora o abscesso que reflete pra dentro, pulsando feito contagem regressiva de bomba relógio biológico. Ego híbrido, organismo anímico.
Na aurora das súbitas desacelerações, somos ígneos, porém rochas em consolidação. Ainda possuímos o transpirar das pétalas em fotossíntese. Solar visão!
Véus opacos que quando caem delicados dos céus de anis estrelados escorregam e deixam a pele à mostra. As xícaras de chá transportam à atmosferas entrevistas por feixes de luzes que ganham tonalidades fortes conforme o traço deixado e permanecem assim até o brilho irrevogável de uma iluminação sutil.
O que fica é sintoma de cheiro que conduz àquela portinhola da mente que não te deixa mentir, está sempre aberta, ainda que se adentre engatinhando.

Sempre o mar, 
ainda que alcançado apenas através de tortuosos caminhos
Sempre a lua
acesa numa noite escura

Afetação


o desenho daquelas ruas tinham significados específicos
que falavam por si só aos transeuntes
naquela cidade, vou descendo um fluxo contínuo
diferentes  ladrilhos, ora o mato que crescia entre os paralelepípedos
os passos contados e recontados até o portão
O ritmo que muda quando perto do acidentado assoalho próximo à esquina
a dor que dá pequeninas pontadas bem no centro do peito
e a consciência que às vezes grita sozinha e você se pergunta
se é com você mesmo ou com sua sombra vizinha

recupero a tensão e percebo
que já estou tão cansada de esmorecer
talvez eu procure minha dignidade
mas por enquanto eu preciso
esquecer qualquer adversidade e seguir
andando, nesse mar de asfalto e concreto
da cidade inventada- com seres de plástico
sem afeto, sem afetação

Nunca estamos só, criamos e parimos pensamentos a todo momento- uns mais elaborados, outros malévolos, uns benéficos, emotivos, banais. É fato que eles se descolam e ganham vida própria. Ficando soltos no cosmos, plainando feito nuvens amorfas, invisíveis e passageiras. Somente podem ser captados, condensados e precipitados pelas antenas da alma.

glândulas humanas secretam espíritos de solidão
eles habitam a casa e animam seu aquário de estimação
osmose de sintonia aquática

quem disse que no oxigênio não se boia, ou se afunda?
cultivando sombras ele segue construindo ruínas desérticas onde o estridente rumor é abafado
sonhando com a intuição do acaso forjado, na reminiscência do silêncio
ela pára e escuta o barulho do mar.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Ampulheta


*Gustavo Fernades


Trago em mim a areia e o vento
o pau e a pedra- o sedimento

tenho a velocidade da queda

entre liames e ditames
comunhão de polaridades
mensuro o ritmo do mundo
na duração que escorre
das balizas do tempo

arranjo entre arcaicos arquétipos
o equilíbrio oculto
entre a noite solar e o dia lunar

estrela errante que irradia rumores das rupturas
na transitividade da eterna espera
no firmamento limite de  envergaduras extremas

meu anima consola meu animus
num  cosmos interno
com suas centelhas vibrantes de luz
conduzindo rumo à imaginação- o fragmento

Entre anjos e arcanjos
áureos altares de bênçãos ancestrais
onde andrógenos insones
buscam nostálgicos pelo equilíbrio
passível de se despertar
no regresso à unidade
na efemeridade do traço
na jubilar conexão

Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...