domingo, 29 de maio de 2011

Pequena caixa de cedro


Em mais uma de suas trôpegas andanças por corredores empoeirados à procura de livros que a valham em uma biblioteca pública do centro da cidade, Morgana não esperava encontrar grandes novidades que já não tivesse lido ou que já não tivesse por ventura corrido a retina em desaviso. Mas pouco importava o transtorno de sair logo cedo pela manhã de seu casulo, tomar um café frio de ontem e ligar o motor do carro ainda na garagem pra fazer roncar forte e acordar já cedo a vizinhança hostil.
 A apatia generalizada por tudo que beira o espetáculo a inclinava a procurar obstinada por alguma obra rara que a prendesse a atenção. A ela não agradava a expressão pretensiosa do tipo “não li e não gostei”, achava que tudo poderia ser precioso, bastava o ponto de vista empregado, a sua própria leitura e interpretação desencadeada é que a ela interessava. Ansiava pelo alcance de qualquer passagem que a transportasse para uma dimensão imaginada. Acreditava piamente que o maior dos tesouros poderia estar lá, mesmo que bolorento ou entregue às traças, sabia que em alguma prateleira se escondia a preciosidade que tanto buscava.
De tanto procurar e andar a esmo se deparou com uma pequena caixa não etiquetada, posicionada fronte a coleção “Diamantes de Saber”, já naquelas prateleiras pouco acessadas e quase abandonas à própria sorte. Se perguntava se estava esquecida, deixada ao acaso? De quem pertencia?
Muitas dúvidas a fizeram refletir sobre o destino merecido de tal objeto, cogitou a possibilidade de entregar aos “perdidos e achados”, mas depois de uma breve espiada resolveu levar o artefato para a casa, para analisar com mais atenção. Quem sabe ali não encontrasse algum indício que remetesse ao verdadeiro proprietário.
Quando abriu viu que se tratava de um significativo arsenal de cartas e outras tantas recordações de amor. Aquele sim era um material diferente, de autores anônimos até então. Valia a pena a indiscrição de explorar?
Morgana não titubeou e destampou a caixa, atiçada por uma curiosidade que a tomava de sobressalto. E ia lendo-as uma a uma sem hesitação.

                                    Segue em outro momento.........



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